segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Maconha provoca modificações na estrutura cerebral e perda de memória de curto prazo

Estudo americano aponta que alterações cerebrais são parecidas com as da esquizofrenia em adolescentes que fizeram uso da droga diariamente, por três anos.

O uso contínuo e diário de maconha pode causar alterações na estrutura do cérebro parecidas com as da esquizofrenia. Em estudo com adolescentes, pesquisadores da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, relataram que as modificações cerebrais estão ligadas à perda de memória de curto prazo, o que compromete o desempenho escolar.
A pesquisa foi realizada com estudantes que fumavam diariamente durante três anos, entre os 16 e 17 anos, mais ou menos. As anormalidades cerebrais e problemas de memória foram constatadas dois anos após eles terem interrompido o consumo da droga, quando tinham cerca de vinte anos. O resultado aponta para os efeitos do uso crônico a longo prazo.
De acordo com os cientistas, as estruturas relacionadas com a memória pareciam encolher nos usuários, possivelmente refletindo uma diminuição nos neurônios. O estudo também mostra que as anormalidades cerebrais ligadas à maconha possuíam relação com o baixo desempenho da memória de curto prazo, o mesmo problema observado no cérebro de esquizofrênicos.
Nos últimos dez anos, os cientistas da Northwestern, em conjunto com outras instituições, têm apontado que mudanças na estrutura do cérebro podem alterar a forma como ele funciona.
Estudos anteriores já haviam avaliado os efeitos da maconha sobre o córtex, mas poucos haviam comparado diretamente o cérebro de usuários crônicos ao de esquizofrênicos. Esta é a primeira pesquisa a segmentar as regiões da área cinzenta subcortical afetadas por usuários e também é a única a ligar a área com a capacidade de processar informações do momento e, se necessário, transferi-las para a memória de longo prazo.
- O estudo relaciona o uso crônico de maconha a estas anormalidades cerebrais que parecem durar por pelo menos alguns anos depois de as pessoas pararem de usar a droga - disse o principal autor do estudo, Matthew Smith, professor de pesquisa em psiquiatria e ciências comportamentais da Escola de Medicina da Universidade de Northwestern Feinberg. - Com o movimento para descriminalizar a maconha, precisamos de mais pesquisas para compreender seu efeito sobre o cérebro.
Publicado nesta segunda na revista “Schizophrenia Bulletin“, o estudo analisou apenas um ponto no tempo e os cientistas afirmam que será preciso um estudo longitudinal para mostrar definitivamente se a maconha é responsável pelas alterações cerebrais e perda de memória.
- É possível que as estruturas cerebrais anormais revelem uma vulnerabilidade preexistente ao uso da droga - afirmou Smith. - Mas a evidência de que o sujeito mais novo a usar a droga apresentou maior anormalidade cerebral indica que a maconha pode ser a causa.
Cerca de 97 pessoas participaram do estudo, incluindo usuários de maconha saudáveis ou com esquizofrenia e não usuários saudáveis ou com esquizofrenia. Os que usaram maconha não fizeram uso crônico de qualquer outra droga.
Conexão entre maconha e esquizofrenia
Dos 15 usuários esquizofrênicos no estudo, 90% começaram a usar a droga intensamente antes de desenvolverem o transtorno mental. O uso crônico da maconha já havia sido relacionado com o desenvolvimento de esquizofrenia em pesquisas anteriores.
- O abuso de drogas de rua populares, tais como a maconha, pode ter implicações perigosas para os jovens que estão desenvolvendo ou vão desenvolver transtornos mentais - relatou outro autor do estudo, John Csernansky. - Esta pesquisa pode ser pioneira a revelar que o uso de maconha pode contribuir para as alterações na estrutura do cérebro que têm sido associados com a esquizofrenia.
Tanto os fumantes crônicos saudáveis quanto os com esquizofrenia tinham alterações cerebrais relacionadas com a droga. No entanto, os indivíduos com transtorno mental apresentaram maior deterioração no tálamo, uma estrutura tida como o centro de comunicação do cérebro e fundamental para a aprendizagem, a memória e as comunicações entre as regiões cerebrais.
- O uso crônico de maconha pode aumentar o processo de doença subjacente associada com a esquizofrenia - analisou Smith. - Se alguém tem um histórico familiar de esquizofrenia, ele pode estar aumentando seu risco de desenvolver o transtorno fazendo uso crônico da droga.

Fonte: http://oglobo.globo.com/saude/maconha-provoca-modificacoes-na-estrutura-cerebral-perda-de-memoria-de-curto-prazo-11064016

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sintomas de uma crise de pânico são parecidos aos de um infarto; entenda

Na crise, paciente pode ter falta de ar, transpiração e aceleração cardíaca

Sentir medo sem motivo e repentinamente pode ser um sinal de síndrome do pânico, um transtorno mental de ansiedade que causa ataques repentinos de temor em situações cotidianas, como durante o sono, por exemplo. Durante uma crise, a pessoa pode ter ainda sintomas parecidos aos de um infarto, como falta de ar, coração acelerado e transpiração excessiva, como explicaram a cardiologista Roberta Saretta e o psiquiatra Daniel Barros.

Caso esses sintomas apareçam pela primeira vez, o paciente deve ir imediatamente a um hospital para avaliar se é um infarto, especialmente se ele tiver fatores de risco como diabetes, histórico familiar de doenças cardiovasculares, fumo, hipertensão, má alimentação e sedentarismo. Nesse caso, os sintomas podem se prolongar para dor no peito, no braço esquerdo, costas, mandíbula e estômago.

Por outro lado, se ele já teve os sintomas várias vezes ao longo da vida, já foi ao médico e não foi diagnosticado nenhum problema de coração, pode ser que o problema seja a síndrome do pânico, como explicou o psiquiatra Daniel Barros. Nesse caso, é importante que seja feito um acompanhamento conjunto com o psiquiatra e também o cardiologista.

Em alguns casos, o pânico pode ter origem familiar ou relação com histórias de vida, mas pode ser também desencadeado por fatos estressantes, como vestibular, falecimento ou casamento, como lembrou o psiquiatra. O transtorno é mais comum em mulheres e na fase adulta; algumas pessoas, inclusive, podem ter uma crise uma única vez e nunca mais ou podem sofrer várias cronicamente.

Para evitar que o estresse acumule, a dica é tirar 10 minutos do dia para pensar em uma única imagem e nada mais, como um desenho simples de uma árvore ou uma paisagem, por exemplo - essa técnica ajuda a "limpar" a mente do excesso de preocupações que podem levar a uma crise de pânico. Durante a crise, porém, isso não adianta muito; o ideal é fazer o tratamento contínuo do transtorno com um psicólogo, psiquiatra e, em alguns casos, medicamentos.

Segundo a cardiologista Roberta Saretta, também existem remédios que ajudam a reduzir o risco de infarto, como os de pressão alta, os anticoagulantes e as estatinas (para o colesterol). Nesse último caso, o medicamento diminui a quantidade de colesterol na corrente sanguínea e evita que se formem placas de gorduras na artéria. Porém, as estatinas não eliminam as placas que já existem, apenas reduzem a inflamação que elas causam, abrindo maior espaço para o fluxo de sangue.

É importante ainda que, para reduzir o risco de infarto e também da síndrome do pânico, o paciente seja o mais ativo que puder e faça exercício físico regularmente.

Isso porque, além de reduzir o estresse, ao se exercitar, o músculo cardíaco se fortalece e produz novas redes de circulação do sangue, criando caminhos alternativos caso a pessoa tenha um ataque cardíaco.

O psiquiatra Daniel Barros falou também sobre a diferença entre uma simples timidez e a fobia social, outro problema que pode atrapalhar muito o dia a dia. Algumas pessoas, por exemplo, têm medo de falar com outras porque sentem que estão sendo observadas - isso pode ser uma doença, a fobia social, que causa um medo inconsciente que acelera o coração e a respiração. Mesmo sabendo que nada grave vai acontecer ao falar com alguém, o medo de dar algo errado é frequente nesses pacientes. De acordo com o psiquiatra, o tratamento é feito com remédios e psicoterapia para que a pessoa perca o medo de se expor aos poucos e volte a se relacionar socialmente, o que faz muito bem à saúde

Estudo diz que demência já atinge 44 milhões de pessoas no mundo

Até 2050, 135 milhões de pessoas apresentarão sintomas de demência.
Dados foram divulgados em relatório internacional.

O número de pessoas com demência no mundo aumentou em 22% nos últimos três anos, e já atinge 44 milhões de pessoas, revela um estudo publicado nesta quinta-feira (5).
Segundo o relatório da Alzheimer Disease International, esta quantidade deve triplicar até 2050, quando 135 milhões de pessoas podem apresentar demência no planeta, sendo 16 milhões na Europa Ocidental.
"É uma epidemia mundial, e só vai piorar. Se olharmos para o futuro, veremos que o número de pessoas idosas vai aumentar de forma significativa", declarou Marc Wortmann, diretor executivo da Alzheimer Disease International.
"É essencial que a Organização Mundial de Saúde faça da demência uma prioridade para que o mundo se prepare para enfrentar esta situação".
Na próxima semana será realizada, em Londres, uma reunião do G8 sobre a demência, qualificada pelo ministério da Saúde britânico como um 'desafio mundial crescente'.
"A reunião do G8 da próxima semana será uma oportunidade única para realizar progressos reais muito mais rapidamente e redobrar os esforços para encontrar tratamentos eficazes".

Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/12/estudo-diz-que-demencia-ja-atinge-44-milhoes-de-pessoas-no-mundo.html

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ser 'um pouco psicopata' no trabalho melhora desempenho, diz psicólogo

Em livro, britânico Kevin Dutton diz que adotar alguns traços típicos de serial killers pode trazer benefícios no ambiente profissional.


Para muitos de nós, psicopatas são seres perigosos que, armados com facas, deveriam passar o resto de seus dias atrás das grades.
O especialista em psicologia experimental da Universidade de Oxford Kevin Dutton pensa diferente. Para ele, ao contrário do que reza o imaginário popular, podemos aprender -- e muito -- com eles.
"É verdade que, quando psicólogos como eu usam a palavra 'psicopata', imagens de serial killers como Ted Bundy (que estuprou e matou mais de 30 meninas e mulheres nos Estados Unidos nos anos 70) logo vêm à mente de todo mundo", diz Dutton.
No entanto, ele argumenta que todo mundo pode se beneficiar ao ser mais implacável, destemido, autoconfiante, focado, frio, charmoso ou carismático, traços que podem ser exacerbados em psicopatas.
Para Dutton, nenhuma dessas características é um problema por si só. O perigo, acrescenta ele, ocorre quando "todos esses traços ficam muito pronunciados, gerando disfunções".
"Não estou glamourizando a figura do psicopata", destaca Dutton, "porque essas pessoas acabaram com a vida de muitas outras".
Em seu novo livro, intitulado The Wisdom of Psychopats ("A Sabedoria dos Psicopatas"), ele diz que a adoção de algumas das características dos psicopatas podem nos ajudam a melhorar o nosso desempenho no trabalho.
Psicopatas, por exemplo, tendem a não adiar tarefas ou mesmo levar os problemas profissionais para o campo pessoal, "além de não exigirem tanto de si mesmo quando as coisas dão errado", afirma Dutton.
"Se alguém quer um aumento de salário, é normal ficar um pouco ansioso para pedi-lo. Em outras palavras: O que pode acontecer comigo se meu pleito não for aceito ou o que meu chefe vai pensar de mim?"
"Bem, tenha fé em seu potencial e vá adiante. Não se apegue aos seus defeitos, apenas às suas virtudes."
"Ao fazer isso, você se torna mais confiante, e tem mais chances de conseguir o que quer."
Carreira
Até a falta de empatia com os outros -- comum entre alguns psicopatas -- pode ser útil em algumas profissões.

"Imagine que você tenha a capacidade para ser um bom cirurgião -- mas não consegue se desvencilhar emocionalmente da pessoa que você está operando", disse Dutton.
"Um cirurgião me disse certa vez que quando o médico começa a ver o paciente como um parente próximo ou um amigo, está andando numa espécie de 'corda-bamba' emocional".
"Os vitoriosos -- ou os mais predispostos ao sucesso -- serão aqueles que conseguem estabelecer uma distância sentimental dos seus pacientes".
Pessoas com essas características são mais adaptadas para trabalhar especialmente em cargos de chefia ou de muita importância, como CEOs, advogados ou até jornalistas.
Políticos também costumam revelam alguns traços marcantes de psicopatas.
"Políticos de sucesso precisam não ter remorso ao implementar políticas impopulares, muitas vezes, em desacordo com alguns setores da sociedade", disse Dutton.
"Se você pensar dessa forma, o político de maior sucesso é alguém que sabe dizer o que a população está pensando".
"Eles são brilhantes em se embrenhar no imaginário coletivo, são como assaltantes psicopatas".
Outro lado
No entanto, outros psicólogos estimam que a psicopatia atinja apenas 1% da população total e descrevem a visão de Dutton como "muito generalista".

"É errado descrever essas pessoas como psicopatas -- isso é uma definição clínica", disse à BBC o professor Cary Cooper, da Lancaster University Management School.
"Eles não vão matar ninguém -- mas indiretamente podem causar perigo às pessoas porque são tão focados no seu próprio sucesso e, ao mesmo tempo, totalmente abstraídos das necessidades dos outros".
"Trata-se, na prática, de um estilo de gerenciamento 'abrasivo', uma espécie de bullying".
Sem escrúpulos
Especialistas alertam que, embora a preocupação consigo mesmo em detrimento com os colegas possa trazer ganhos de curto prazo, tal comportamento pode criar problemas para as empresas no futuro.

"Normalmente essas pessoas têm um desempenho excelente, mas a equipe sofre muito", disse Jonny Gifford, especialista do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD).
É importante perceber que sempre haverá pessoas que "queiram puxar o tapete" das outras dentro das organizações, disse ele. Do ponto de vista da companhia, acrescenta Gifford, o segredo é saber controlar esse tipo de comportamento, de forma que tais funcionários não coloquem em risco o ambiente de trabalho com suas ações.
Porém, para Dutton, às vezes a crueldade e a falta de compaixão é justamente o que um chefe precisa ter para controlar uma grande empresa.
"Imagine se você detém as competências financeiras e estratégias para um cargo de chefia, mas carece de crueldade suficiente para demitir funcionários que não sejam pró-ativos, ou não possui a frieza necessária para atravessar um período de maus resultados, você nunca vai chegar a nenhum posto de comando, ou vai?"
Mas para aqueles que acreditam que possam ter um chefe sem tendências psicopatas, o especialista dá um conselho.
"Se o seu chefe costuma pisar nos subordinados ou usa todos os meios possíveis para impressionar quem está acima dele, é hora de buscar um novo emprego."

Dificuldade de aprendizado pode ser algum transtorno do cérebro

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade atrapalha as crianças.
Dislexia afeta a leitura; é importante fazer o diagnóstico certo para tratar.


Ir mal na escola ou ter dificuldades de aprendizado não significa que uma criança não goste de estudar. A falta de concentração nos estudos pode ter origem dentro do cérebro, na comunicação entre os neurônios.
Essa dificuldade de concentração é um problema catalogado na medicina e tem nome: transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A boa notícia é que esse transtorno tem tratamento, basta tomar o remédio em dia.
Os dois problemas têm em comum a origem neurológica, um mau funcionamento dos circuitos cerebrais. Além disso, tanto um quanto o outro, se não forem tratadas, podem levar à ansiedade e à depressão.
Porém, os distúrbios têm muitas diferenças. Enquanto o TDAH prejudica de maneira ampla a vida dos portadores, que não conseguem ter foco nas atividades rotineiras, a dislexia é somente um transtorno de aprendizado, em que a pessoa não consegue ligar os sons às letras.
O TDAH pode ser diagnosticado a partir dos três anos e se manifesta de várias maneiras ao longo da infância. A criança não consegue se concentrar em nada, nem mesmo na hora de sentar para assistir a um desenho animado – é diferente de um menino agitado que, quando quer, fecha o foco em uma atividade específica.
Um estudo recente mostrou que o diagnóstico do TDAH ainda precisa ser mais bem feito. De 500 pessoas que tinham recebido diagnóstico de TDAH, apenas 23% preenchiam critérios rigorosos para serem consideradas portadoras. Por outro lado, das crianças que deveriam ter sido diagnosticadas, 58,4% nunca tinham sido identificadas como portadoras do transtorno.
O remédio usado para controlar o TDAH é uma substância chamada metilfenidato. É considerado seguro e eficaz, mesmo nas crianças, mas é de tarja preta -- ou seja, sua venda é controlada. O medicamento deve ser usado continuamente pelo resto da vida; ele controla o transtorno, mas não cura.
Já a dislexia tem uma situação diferente. O diagnóstico costuma vir um pouco mais tarde, quando a criança entra na fase de alfabetização. Ela não tem remédio, mas pode ser eliminada com um treinamento específico. Esse tratamento dura entre dois e cinco anos e consegue ensinar o paciente a relacionar formas e sons da maneira correta, remediando o problema. Contudo, os especialistas consideram que a dislexia não tem uma cura, e que este tratamento ensina a conviver com o problema e superar suas limitações.
Assim como o TDAH, a dislexia também tem um diagnóstico difícil. Nos dois casos, é muito importante descartar problemas visuais, auditivos, lesões cerebrais e doenças psiquiátricas, como a ansiedade, antes de afirmar que a criança tem o transtorno e iniciar o tratamento.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mastigar pouco e comer rápido são hábitos que prejudicam a digestão


Engolir a comida muito rápido pode também sobrecarregar o estômago.
Partir mais os alimentos e repousar os talheres ajudam a comer melhor.


Mastigar os alimentos parece uma ação inofensiva, mas não é. A mastigação é extremamente importante na digestão, que começa sempre pela boca.
Por isso, hábitos como mastigar pouco, comer muito rápido, falar enquanto come ou até mesmo beber algum líquido durante a refeição podem prejudicar esse processo.
Quanto mais mastigado o alimento, mais enzimas digestivas grudam em sua superfície e a digestão fica mais fácil e rápida; por outro lado, se a mastigação for rápida e o alimento for logo engolido, as enzimas perdem a função e o estômago fica sobrecarregado porque recebe o alimento quase inteiro. A má mastigação causa riscos também para a absorção dos nutrientes já que o organismo elimina o alimento que não foi bem mastigado sem absorver substâncias que podem ser importantes para a saúde.
Além disso, quando a pessoa come rápido e mastiga pouco, ela sente ainda mais vontade de comer porque o cérebro não tem tempo de perceber que já está satisfeito.
Partir o alimento em pedaços menores e comer devagar ajuda a aumentar a saciedade - a dica é repousar os talheres entre uma garfada e outra e colocar na boca pedaços que tenham a metade do tamanho da língua, para caber dentro da boca sem problemas.
Caso a pessoa coloque pedaços grandes na boca, ela pode sentir vontade de beber algum líquido para "empurrar" o alimento para baixo. Em relação a esse hábito, o cirurgião Fábio Atui explicou que isso pode levar a pessoa a querer mastigar menos já que a bebida facilita que a comida seja engolida. No caso de bebidas gaseificadas, como refrigerante, água com gás e cerveja, há o risco também de aumentar a capacidade gástrica do organismo.
O hábito de beber durante as refeições pode também aumentar o valor calórico da dieta. A dica, para não atrapalhar a digestão, é ingerir no máximo 200 ml de água sem gás durante a refeição.
Isso porque as outras bebidas tem muitas calorias. Por exemplo, uma lata de refrigerante normal tem 135 calorias, mais do que um copo de suco de abacaxi com açúcar, por exemplo, que tem 60 calorias. No entanto, se a opção for a bebida alcoólica, o valor aumenta ainda mais – um chope tem 180 calorias, a capirinha com adoçante tem 140 calorias e a lata de cerveja tem 150 calorias.






















Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/04/mastigar-pouco-e-comer-rapido-sao-habitos-que-prejudicam-digestao.html

Isolamento social aumenta risco de morte entre idosos, diz estudo


Cientistas ingleses acompanharam 6.500 homens e mulheres por oito anos.
Afastar-se fisicamente das pessoas é mais negativo que se sentir sozinho.


O isolamento social tem um impacto maior sobre a expectativa de vida dos idosos que a solidão, aponta um novo estudo feito pelo University College de Londres. Isso significa que se afastar fisicamente dos outros é pior para a saúde do que, de fato, se sentir sozinho.
Na definição dos pesquisadores, a solidão personifica o isolamento, ao refletir a insatisfação de uma pessoa com a frequência e a proximidade de seus contatos sociais em relação às relações que ela realmente gostaria de ter.
Os resultados do trabalho, liderado por Andrew Steptoe, do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública do University College, foram publicados na edição de segunda-feira (25/03/2013) da revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS).
Os autores avaliaram 6.500 homens e mulheres com 52 anos ou mais que participaram do Estudo Longitudinal de Envelhecimento Inglês (Elsa), entre 2004 e 2005, e acompanharam o risco de morte deles até março de 2012. Nessa data, haviam morrido 918 (14,1%) voluntários, com prevalência do sexo masculino.
Os participantes que mantinham contato limitado com a família, amigos e organizações comunitárias foram classificados como socialmente isolados, e foi usado um questionário para medir o nível de afastamento de cada um.
De acordo com os pesquisadores, tanto a solidão quanto o isolamento social podem favorecer uma morte precoce, mas no segundo caso nem precisaram ser considerados critérios como a saúde física e mental da pessoa e dados demográficos (expectativa de vida, educação, religião, etnia, etc) da população. Isso significa que se isolar do restante do mundo pode fazer mal à saúde independentemente do sentimento interno de solidão.
Além de aumentar o risco de morte, o isolamento social pode contribuir para o desenvolvimento de doenças infecciosas e cardiovasculares, o aumento da pressão arterial e do hormônio do estresse (cortisol), e a deterioração do funcionamento cerebral. Segundo o estudo, a solidão também interfere na pressão, nos níveis de cortisol e outros hormônios, e nos processos inflamatórios do organismo.
Não foram encontradas diferenças de sexo para o isolamento social, mas esse comportamento foi visto com maior incidência em pessoas mais velhas, casadas, pobres e com menor grau de instrução. Além disso, o problema foi mais frequente em indivíduos com alguma limitação de longo prazo, como depressão, artrite, falta de mobilidade e doença pulmonar crônica.
Já a solidão foi mais comum em mulheres, principalmente casadas, e estava associada a uma idade avançada, baixa escolaridade e menor riqueza. Essas pessoas também tinham mais depressão, doença arterial coronariana ou acidente vascular cerebral (AVC) que a média.
Na conclusão dos autores, tanto para casos de solidão quanto de isolamento social, são indicadas atividades que incentivem a interação entre os indivíduos, na tentativa de promover uma maior longevidade aos idosos.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Motorista que atingiu ciclista pode ter tido crise de pânico, dizem psiquiatras


Para eles, no entanto, isso não justifica atitudes de Alex Siwek.
Ataque de pânico pode levar a atitudes irracionais e pouco coerentes.


O estudante de psicologia Alex Siwek, que atropelou o ciclista David Santos de Souza e jogou seu braço em um córrego em São Paulo, pode ter sofrido um ataque de pânico circunstancial e momentâneo, capaz de levar a atitudes irracionais e pouco coerentes, afirmaram psiquiatras.

O ataque não caracteriza um transtorno mental e pode acometer qualquer pessoa em situação de estresse extremo, como por exemplo dentro de um elevador em queda ou durante um terremoto, ressalta o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, supervisor do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da USP, ligado ao Hospital das Clínicas.
O psiquiatra avalia existirem principalmente dois tipos de pânico: o transtorno ou síndrome do pânico, que se caracteriza por crises frequentes de ansiedade e medo, com ou sem fatores que causem seu surgimento, e o pânico situacional, que pode acometer pessoas comuns diante de ameaças, acidentes ou catástrofes.
"Tomar uma atitude irracional em um quadro de pânico é muito comum, como reagir a um assalto, por exemplo. As pessoas às vezes tomam medidas que elas mesmas desconheceriam", pondera Mello. "São atitudes reflexas em situações críticas."
Sem justificativa

Tanto Mello quanto o psiquiatra forense Guido Palomba, no entanto, concordam que um ataque de pânico não é capaz de justificar as atitudes de Siwek. O estudante apresentava sinais de embriaguez na hora do acidente, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML). Testemunhas disseram ter visto o carro do jovem andando em zigue-zague na Avenida Paulista. Após atingir o ciclista, às 5h30 do domingo (10), ele deixou o local sem prestar socorro.

"Pode ser uma reação primitiva, de pânico, sim. Mas isso naturalmente não desculpa o comportamento, não justifica. Tudo isso [o pânico] pode nascer de um pensamento inicial do motorista de não socorrer", afirma Palomba. "Se ele [Siwek] tivesse socorrido, talvez ele não tivesse sofrido o pânico que sofreu. O pânico é o tributo que ele pagou, a consequência por não ter agido corretamente."
Para o psiquiatra forense, cada pessoa reage de uma maneira diante de situações extremas, mas há um comportamento comum aos casos: o estreitamento da consciência e a adoção de atitudes instintivas, feitas quase sem pensar. "Existe uma descarga de adrenalina junto com o estreitamento de consciência na hora do pânico", diz.
"Em vez de colocar a mão na cabeça e pensar: 'o que eu fiz?', a pessoa tem uma reação primitiva, insintiva de pouca crítica", ressalta Palomba, referindo-se às atitudes de Siwek - após atropelar um ciclista, ele deixou o amigo que estava no carro com ele em casa e foi à Avenida Doutor Ricardo Jafet, na Zona Sul de São Paulo, onde jogou o braço do atropelado em um córrego.
Provavelmente foi nesta condição pouco racional que o estudante de psicologia, após o atropelamento, dirigu-se a uma base da PM no Jardim da Saúde, também na Zona Sul, pedindo aos policiais para ser preso por acreditar que havia matado uma pessoa, analisa o psiquiatra forense.
Três atitudes

Mello explica que há três atitudes mais comuns diante de situações que causem pânico, como um assalto ou um acidente: paralisia, fuga ou enfrentamento. "Geralmente o enfrentamento ocorre quando você não tem opção", detalha. Para o psiquiatra, "a atitude dele [Siwek] parece ter sido de pânico e fuga".

Palomba discorda quanto à fuga. Ele acredita que, na hora do acidente, o motorista não teve pânico ou choque - este estado mental pode ter ocorrido depois, quando viu o braço preso em seu carro. Segundo o advogado de Siwek, o jovem ficou atordoado na hora do acidente e, em um primeiro momento, não viu o membro pendurado no veículo.
"Acho que a bebida alcoólica o levou a cometer esse crime de trânsito, a não ajudar o ciclista", diz o psiquiatra forense. "Se não houvesse o braço pendurado, se o carro estivesse só um pouco amassado, ficaria por isso mesmo. Tudo nasce desta cena, ali ele [Siwek] viu que o negócio era muito grave."
Imaturidade

Outra hipótese para a reação de Siwek é uma grande imaturidade, diz o especialista do Hospital das Clínicas da USP. "Uma pessoa imatura não julga estas situações de forma coerente, ela entra em pânico e acaba cometendo uma coisa pior ainda", ressalta.

Mello recorda o incêndio de Santa Maria ao falar sobre situações que causam pânico. "Em um incêndio em uma danceteria, ficar em pânico pode ser um fator de vida ou morte", reflete. O desespero pode fazer com que as pessoas se atrapalhem e não consigam sair do local em chamas.
"Em um assalto, por exemplo, o melhor é ter uma reação de paralisia do que de enfrentamento", pondera o psiquiatra.
Na opinião de Palomba, o acidente se deveu em grande parte ao uso de álcool. Ele, no entanto, considera que a bebida não deve ter influenciado a reação do motorista após o atropelamento. "Isso tudo deve ter ocorrido quando ele estava mais sóbrio", diz o psiquiatra forense.
Mello pondera que só uma análise do histórico do rapaz e uma avaliação psicológica podem dizer se o estudante sofre de algum transtorno mental. "Não se pode julgar o comportamento da pessoa de forma transversal", afirma. "Precisa ver comportamento dela na infância, a forma que evoluiu."
Como ocorreu o acidente

Na descrição da polícia, o motorista Alex Siwek estava dentro de um Honda Fit ao lado de um amigo quando o acidente ocorreu. O braço direito do ciclista foi amputado por estilhaços de vidro do pára-brisa e permaneceu preso ao veículo.

O motorista fugiu do local, deixou o amigo em casa e depois foi à Avenida Doutor Ricardo Jafet, de onde lançou o braço em um córrego. Depois, voltou à própria casa, guardou o carro na garagem e dirigiu-se a pé à unidade policial para se entregar.
O exame clínico apontou que o motorista havia ingerido bebida alcoólica antes do acidente. A comanda de consumo de Alex Siwek, paga na casa noturna de onde ele saiu antes de atropelar o ciclista, mostra que ele pagou por três doses de vodca e um energético. O horário que a comanda individual de consumo foi fechada, às 6h, porém, é posterior ao horário do acidente, ocorrido às 5h30.
O advogado de Siwek, Pablo Naves Testone, afirma que o estudante de psicologia não tem antecedentes criminais e que reúne os requisitos para responder ao processo em liberdade. Diz ainda que a família do rapaz está muito assustada com a repercussão do caso e que já sofreu ameaças.
"Acharam o número da residência fixa, e ligaram falando bobagens, como a mãe e o pai educaram o menino, falando que iam matá-los." A ligação foi atendida pela mãe de Alex, que, segundo o advogado, está tomando rémedios por conta dos últimos acontecimentos. "Todos estão comovidos, sabem que foi aterrorizante, e que o menino será julgado pelo que fez, mas algumas pessoas estão exagerando."
O estudante foi transferido para o Centro de Detenção Provisória 3 de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, na terça-feira (12). Ele estava no CDP 2 do Belém, na Zona Leste, desde segunda (11). Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), Siwek ficará em regime de observação, sem contato com os outros presidiários, para se adaptar ao regime carcerário. Durante o período, ele só poderá receber visita de seus advogados.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Cientistas ligam anomalias genéticas a problemas mentais comuns


Mudanças genéticas comuns podem estar entre as causas dos problemas.
Autismo, transtorno bipolar e esquizofrenia estão entre doenças do estudo.


Anomalias genéticas comuns foram encontradas em cinco grandes problemas mentais, segundo o maior estudo já realizado sobre o tema e publicado nesta quinta-feira (28).

Cientistas americanos analisaram o patrimônio genético de 33.332 pacientes portadores de transtornos autistas, transtornos de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno bipolar, depressão maior e esquizofrenia.
O genoma dos pacientes foi comparado com o de um grupo de controle, composto por 27.888 pessoas sem registro de nenhum destes transtornos.
Os cientistas descobriram que os cinco problemas tinham em comum defeitos nos cromossomos 2 e 10, assim como em outros dois genes que participam da regulação do cálcio nas células do cérebro.
Um destes genes, denominado CACNA1C, só havia sido associado a transtornos bipolares e à esquizofrenia.
Segundo o estudo, publicado na revista médica britânica "Lancet", os genes fazem parte de um quadro geral e não podem, sozinhos, explicar as causas destes transtornos.
Os genes estudados provieram, na maioria, de pessoas de origem europeia, segundo os autores do estudo, para quem os resultados poderiam ser diferentes com pessoas originárias de outras regiões. Eles esperam que os resultados do estudo permitam melhorar o diagnóstico de doenças psiquiátricas.
A classificação de distúrbios mentais é muito delicada porque os sintomas podem ser vagos e contraditórios.
Outros estudos genéticos já tinham demonstrado pontos em comum entre diversas doenças autoimunes, como a artrite, a psoríase ou a doença de Crohn, uma enfermidade inflamatória crônica do intestino.

Depressão pode causar alterações no sono e peso e só passa se tratada


Ficar muito triste sem motivo e por muito tempo pode ser um sinal de alerta.
Ao contrário de uma simples tristeza, depressão só passa com tratamento.

Sentir-se triste às vezes por causa de um motivo específico é normal, mas quando essa tristeza aparece do nada e afeta a vontade de fazer atividades simples do dia a dia, pode ser um sinal de alerta.
A tristeza tem uma causa específica e não afeta a rotina do paciente, ao contrário da depressão, que persiste, aparece do nada e pode prejudicar muito a qualidade de vida, inclusive causar alterações no sono e peso.
Ao contrário da tristeza que logo passa, a depressão só passa se for bem tratada - seja com medicamentos, psicoterapia ou outras técnicas. Caso o paciente não faça o tratamento, ele pode perder anos saudáveis de sua vida porque perde a vontade de trabalhar, socializar e ter uma rotina normal. Estima-se que a doença atinja entre 5% e 10% das pessoas no país, principalmente na Região Metropolitana de São Paulo.
Além de prejudicar o dia a dia e fazer a pessoa se isolar, a depressão pode causar também perda de apetite, dificuldade para realizar tarefas cotidianas, sentimentos de impotência e culpa e, em casos mais graves, até mesmo pensamentos e tentativas de suicídio.
Por isso, a pessoa que tem esses sintomas por mais de duas semanas contínuas devem procurar imediatamente um médico. Se diagnosticada a depressão, ela fará um tratamento com remédios e psicoterapia, além de outras técnicas auxiliares, como exercícios físicos, acupuntura e boa alimentação.
A dieta, inclusive, pode também provocar sintomas parecidos aos da depressão. Segundo o endocrinologista Alfredo Halpern, a falta de nutrientes, como ferro, vitamina B 12 e vitamina D, e doenças como hipotiroidismo e anemia são alguns dos fatores que podem afetar o cérebro. Por outro lado, existem alimentos que fazem bem para o sistema nervoso, como as carnes vermelhas e os peixes.
Além da alimentação, existem também algumas dicas de hábitos que podem ajudar a combater a tristeza, como recomendaram os médicos. Por exemplo, registrar em um caderno as coisas pelas quais a pessoa é grata, anotar o que é positivo no dia a dia e investir em boas experiências são atitudes que, comprovadamente, trazem sensação de prazer e bem-estar.
Depressão pós-parto

A depressão pode aparecer também após a gravidez e causar desânimo, tristeza, prostração, falta de fome, falta de apetite sexual e principalmente excesso de preocupação com os recém-nascidos.

Segundo o psiquiatra Joel Rennó Jr., mulheres com depressão pós-parto se preocupam excessivamente com os filhos, ficam noites sem dormir e acabam prejudicando a própria vida e também do marido.

Porém, elas costumam se sentir envergonhadas de procurar um médico já que esse período deveria ser de alegria e não de tristeza profunda. Com isso, acabam criando uma angústia existencial e sofrem muito. Portanto, ao identificar qualquer um desses sinais após a gestação, é extremamente importante procurar um especialista para ajudar a tornar esse momento feliz e prazeroso para toda a família.


sexta-feira, 15 de março de 2013

Estudo mostra de que forma dormir pouco engorda

Nova pesquisa observou que cinco dias de sono restrito pode engordar um quilo. Isso porque o hábito leva uma pessoa a comer mais do que necessita, especialmente nos horários em que deveria estar dormindo   

Passar cinco dias dormindo pouco – menos do que cinco horas por noite — pode ser o suficiente para fazer com que uma pessoa engorde cerca de um quilo, concluiu um novo estudo da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos. De acordo com a pesquisa, quem passa mais horas acordado, embora gaste mais energia, come mais do que precisa e, assim, ingere uma quantidade de calorias maior do que gasta, especialmente à noite, o que acaba promovendo o ganho de peso.   

Essas conclusões foram publicadas nesta segunda-feira no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Segundo escreveram os autores do estudo no artigo, diversos estudos já relacionaram o hábito de dormir pouco a uma maior propensão à obesidade, mas poucos conseguiram encontrar uma explicação para tal associação.   

A pesquisa começou quando a equipe selecionou 16 pessoas saudáveis com uma idade média de 24 anos. Os participantes apresentavam um peso normal, com um índice de massa corporal (IMC) de, em média, 22,9 (o IMC ideal é de 18,5 a 25. Acima disso, o indivíduo é considerado com sobrepeso ou obesidade). Além disso, nenhum deles apresentava problemas em relação à duração do sono: eles dormiam, normalmente, cerca de oito horas por noite.   
Ambiente controlado — Durante duas semanas, essas 16 pessoas viveram no Hospital da Universidade do Colorado e dormiram em um dos "quartos do sono" da unidade, onde os pesquisadores são capazes de controlar e monitorar o sono dos pacientes. Nos primeiros três dias, a duração do sono e a quantidade de calorias ingeridas pelos voluntários foram controlados – os participantes dormiam cerca de nove horas por noite e consumiam a energia necessária para manter seu peso.   

Depois disso, os participantes foram divididos em dois grupos: um deles passou os cinco dias seguintes dormindo apenas cinco horas por noite, e o restante dos voluntários continuou dormindo nove horas por noite. Após esse período, os participantes trocaram de grupo. Nessa etapa da pesquisa, a equipe ofereceu a ambos os grupos refeições fartas e livre acesso a lanches durante o dia, que incluíam alimentos como frutas, iogurte, sorvete e salgadinhos.   

Segundo os resultados, o grupo que passou os cinco dias dormindo menos tempo gastou, em média, 5% a mais de energia do que os voluntários que descansaram por nove horas. No entanto, eles consumiram cerca de 6% a mais de calorias. Além disso, quem teve menos horas de sono apresentou uma maior tendência a comer menos no café-da-manhã, mas a exagerar nos lanches feitos durante a noite e após o jantar, que correspondiam, no geral, à refeição mais calórica do dia.   

“Nossos achados mostram que, quando as pessoas têm o sono restrito, elas se alimentam durante seus horários biológicos noturnos, quando o organismo não está preparado para receber comida”, disse Kenneth Wright, diretor do Laboratório do Sono e Cronobiologia da Universidade do Colorado e coordenador do estudo.   

Questão de gênero — Os autores do estudo também descobriram que, embora tanto homens quanto mulheres tenham ganhado peso com a restrição do sono, os participantes do sexo masculino também engordaram quando tiveram acesso irrestrito aos alimentos, mesmo dormindo nove horas por noite. As voluntárias, por outro lado, mantiveram seu peso com o sono suficiente, independentemente da quantidade de comida à disposição delas.
 
Fonte: Veja online de 14 março de 2012

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Transtorno obsessivo-compulsivo


transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou distúrbio obsessivo-compulsivo (DOC) é um transtorno de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos e compulsivos no qual o indivíduo tem comportamentos considerados estranhos para a sociedade ou para a própria pessoa; normalmente trata-se de ideias exageradas e irracionais de saúdehigiene,organizaçãosimetriaperfeição ou manias e "rituais" que são incontroláveis ou dificilmente controláveis.
O transtorno obsessivo-compulsivo é considerado o quarto diagnóstico psiquiátrico mais frequente na população.[1] De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano 2020 o Transtorno Obsessivo-Compulsivo estará entre as dez causas mais importantes de comprometimento por doença.[2] Além da interferência nas atividades, os sintomas obsessivo-compulsivos (SOC) causam incómodo e angústia aos pacientes e seus familiares.
Apesar de ter sido descrito há mais de um século,[3] e dos vários estudos publicados até o momento, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo ainda é considerado um "enigma". Questões como a descoberta de possíveis fatores etiológicos, diversidade de sintomas e como respondem aos tratamentos continuam sendo um desafio para os pesquisadores.[4]
Estudos indicam que uma das dificuldades para encontrar essas respostas deve-se ao caráter heterogêneo do transtorno. Vários estudos têm apontado para a importância da identificação de subgrupos mais homogêneos de pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Esta abordagem visa a buscar fenótipos mais específicos que possam dar pistas para a identificação dos mecanismos etiológicos da doença, incluindo genes de vulnerabilidade e, por fim, o estabelecimento de abordagens terapêuticas mais eficazes.[5]
Alguns subtipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo têm sido propostos. Dentre eles, dois subtipos bastante estudados correspondem aos pacientes com início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos.[4] e o subtipo de Transtorno Obsessivo-Compulsivo associado à presença de tiques e/ou síndrome de Tourette (ST)[6][7] Esses dois subgrupos de pacientes apresentam características clínicas, neurobiológicas, de neuroimagem, genéticas e de resposta aos tratamentos distintos e que os diferenciam de outros pacientes. É importante ressaltar também que esses dois subtipos apresentam características semelhantes, o que dificulta a interpretação de sua natureza, ou seja, torna-se difícil diferenciar se as características encontradas são devido ao início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos ou à presença de tiques.
Compulsão é um comportamento consciente e repetitivo, como contar, verificar ou evitar um pensamento que serve para anular uma obsessão. Outros exemplos de compulsão são o ato de lavar as mãos ou tomar banho repetidamente, conferir reiteradamente se esqueceu algo como uma torneira aberta ou a porta de casa sem trancar. Deve-se deixar claro porém que para que esses comportamentos sejam considerados compulsivos, devem ocorrer em uma frequência bem acima do necessário diante de qualquer padrão de avaliação.
Acomete 2 a 3% da população geral. A idade média de início costuma ser por volta dos 20 anos e acomete tanto homens como mulheres. Depressão Maior e Fobia Social podem acometer os pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo ao longo da vida.

Sintomas

Frequentemente as pessoas acometidas por este transtorno escondem de amigos e familiares essas ideias e comportamentos, tanto por vergonha quanto por terem noção do absurdo das exigências autoimpostas. Muitas vezes desconhecem que esses problemas fazem parte de um quadro psicológico tratável e cada vez mais responsivo a medicamentos específicos e à psicoterapia. Asobsessões tendem a aumentar a ansiedade da pessoa ao passo que a execução de compulsões a reduz. Porém, se uma pessoa resiste a realização de uma compulsão ou é impedida de fazê-la surge intensa ansiedade. A pessoa pode perceber que a obsessão é irracional e reconhecê-la como um produto de sua mente, experimentando tanto a obsessão quanto a compulsão como algo fora de seu controle e desejo, o que causa muito sofrimento. Pode ser um problema incapacitante porque as obsessões podem consumir tempo (muitas horas do dia) e interferirem significativamente na rotina normal do indivíduo, no seu trabalho, em atividades sociais ou relacionamentos com amigos e familiares.

Epidemiologia

Estudos epidemiológicos recentes, realizados em diferentes países, mostraram que o Transtorno obsessivo-compulsivo tem uma prevalência atual em torno de 1,0%.[8] Em uma revisão sobre epidemiologia realizada por Torres e Lima (2005)[9] apontou uma prevalência de 2,0 a 2,5% ao longo da vida.
Esses dados atuais são bastante diferentes dos dados publicados em meados do século XX, quando, por exemplo, Rudin (1953)[10]relatou uma prevalência do Transtorno obsessivo-compulsivo em torno de 0,05%. Foi apenas na década de 1980 que outros estudos foram feitos, com instrumentos de avaliação estruturados e critérios diagnósticos específicos, e a prevalência do Transtorno obsessivo-compulsivo foi reavaliada. Por exemplo, no estudo epidemiológico americano Epidemiologic Catchment Area (ECA), nos Estados Unidos, a prevalência anual do Transtorno obsessivo-compulsivo foi de 1,5%, e ao longo da vida, de 2 a 3%.[11][12] Os estudos de prevalência no Brasil ainda são insuficientes e pouco representativos. Uma prevalência de 0,9% e 0,5% entre homens e mulheres, respectivamente, foi encontrada em Brasília, e da mesma forma, de 1,7% e 2,7% em Porto Alegre.[13] Andrade e colaboradores (2002)[14] estimaram a prevalência ao longo da vida de 0,3% (0,3% em homens e 0,4% em mulheres).
A partir desses estudos com metodologia mais cuidadosa, foi possível demonstrar que o Transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno comum na população em geral, inclusive em crianças. Estima-se que um terço dessas taxas nos estudos sejam crianças e/ou adolescentes,[15][16] e que cerca de 50% dos adultos com Transtorno obsessivo-compulsivo tenham apresentado o início dos TOC na infância.[8]
Referente à prevalência do Transtorno obsessivo-compulsivo nos diferentes sexos, a apresentação tem um perfil bimodal de acordo com a idade de início do quadro, sendo que o sexo masculino estaria mais associado ao início mais precoce dos sintomas e à presença de tiques. No estudo de Swedo e colaboradores (1989),[17] mais de 70% da amostra de crianças com Transtorno obsessivo-compulsivo eram do sexo masculino. Este número praticamente se iguala com um aumento da incidência do sexo feminino na adolescência, chegando a uma proporção de 1:1 na idade adulta.[18][19]
Assim sendo, de acordo com esses dados, o Transtorno obsessivo-compulsivo representa um transtorno de extrema importância para a saúde pública. Além de bastante frequente, o Transtorno obsessivo-compulsivo apresenta altas taxas de comorbidade com outros transtornos psiquiátricos. Em uma pesquisa recente avaliando 8.580 indivíduos, Torres e colaboradores (2006)[20] encontraram 114 portadores de Transtorno obsessivo-compulsivo, e destes, 62% tinham alguma comorbidade. Essas taxas chegam a 89%.[21]
Este perfil bimodal de distribuição das prevalências de Transtorno obsessivo-compulsivo, com dois picos distintos, sendo um na infância, com incidência maior no sexo masculino, e outro na adolescência, com incidência maior no sexo feminino (igualando a prevalência na idade adulta), reforçou a ideia de que o Transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno heterogêneo e que o início precoce do quadro poderia subdividir os pacientes em um subgrupo mais homogêneo.[5]

Características clínicas

diagnóstico é clínico, ou seja com base nos sintomas do paciente.
De acordo com a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica da América (DSM-IV), o transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno crônico caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões, que consomem ao menos uma hora por dia, e causam sofrimento ao paciente e/ou seus familiares.[22] O Código Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde, 10a edição, CID-10[23] apresenta os mesmos critérios diagnósticos, exceto pelo fato de que o CID- 10 exige que as obsessões e/ou compulsões estejam presentes na maioria dos dias por um período de no mínimo duas semanas. Tanto no DSM-IV quanto no CID-10 não existem diferenças nos critérios para o diagnóstico de crianças, adolescentes e adultos.
Obsessões podem ser definidas como ideias, imagens ou pensamentos que invadem a mente do indivíduo, independentemente da sua vontade. Causam incômodo, desconforto ou sofrimento para a pessoa, que embora perceba o seu caráter irracional, dificilmente tem sucesso em conseguir afastá-las.[22] Algumas obsessões em casos mais sérios podem ser pensamentos e impulsos de fazer alguma atrocidade indesejável, como agredir crianças, atingir alguém com algo e quebrar objetos de valor, causando medo de que se possa perder o controle.
Compulsões podem ser definidas como comportamentos e/ou atos mentais repetitivos e estereotipados que o indivíduo é levado a executar voluntariamente para reduzir a ansiedade ou mal-estar causado por uma obsessão ou para prevenir algum evento temido. O indivíduo também reconhece o caráter irracional do comportamento, apesar de dificilmente conseguir evitar sua ocorrência.[22]
Os temas das obsessões relatados pelos pacientes são variados, já que estas podem ser criadas a partir de qualquer substrato que possa aparecer na mente, sejam palavras, imagens, cenas, sons, preocupações e medos. Dessa forma, não existem limites para a variedade possível do conteúdo das obsessões.[4] Apesar disso, alguns temas são considerados como mais frequentes, tais como: obsessões com temas de contaminação, de agressão, pensamentos religiosossexuais, obsessões com simetria e comcolecionismo[24] As compulsões também podem variar bastante. Entre as mais frequentes, podemos citar: rituais de limpeza, de verificação, de repetição, de contagem, colecionismo e ordenação, e arranjo.[25] Alguns exemplos de compulsões que muitas vezes são difíceis de serem identificadas são os rituais mentais e os comportamentos de evitação. Rituais mentais são atos mentais, ou rituais que se fazem internamente, "na cabeça", tais como rezar ou pensar um pensamento bom para anular um pensamento ruim. Comportamentos de evitação são realizados pelo paciente com o objetivo de não entrar em contato com o objeto ou situação temida. Por exemplo, o indivíduo evita tocar em lugares que considera sujos, ou evita olhar para lugares que possam desencadear obsessões.
O início dos sintomas pode ser agudo ou insidioso, não havendo um padrão de evolução determinado. O quadro do transtorno obsessivo-compulsivo frequentemente inicia-se apenas com uma obsessão e/ou compulsão, havendo posteriormente uma sobreposição dos sintomas.[4]
O curso da doença tende a ser crônico, com baixas taxas de remissão completa, como demonstram estudos de seguimento.[26][27] A presença de comorbidades costuma ser mais uma regra do que uma exceção. De acordo com o Epidemiologic Catchment Area - ECA, 75% dos portadores de transtorno obsessivo-compulsivo apresentam pelo menos um diagnóstico psiquiátrico associado.
A qualidade de vida dos portadores de transtorno obsessivo-compulsivo fica comprometida com o grau de sofrimento e a interferência que este causa, também pelo seu caráter crônico. Na literatura existem poucos estudos que avaliam a qualidade de vida dos portadores do transtorno obsessivo-compulsivo, com destaque o estudo de Hollander (1997),[28] com 701 pacientes, o qual analisou a interferência do transtorno obsessivo-compulsivo em três áreas psicossociais. A baixa autoestima foi relatada por 92% da amostra, e 63% dos pacientes referiram melhora da qualidade de vida após o tratamento. Em uma revisão recente sobre qualidade de vida, Niederauer e colaboradores (2006)[29] concluíram que estudos que avaliaram o impacto do transtorno obsessivo-compulsivo na qualidade de vida dos portadores, apontam para prejuízos significativos em diversos aspectos da vida, mas em especial nas relações sociais e familiares e no desempenho ocupacional.

Tratamento

O tratamento deve ser individualizado, dependendo das características e da gravidade dos sintomas que o paciente apresenta. Em linhas gerais, contudo, utiliza-se a psicoterapia de orientação dinâmica ou cognitivo-comportamental associada com tratamento farmacológico às vezes, em doses bem mais elevadas que as utilizadas no tratamento da depressão. Entre os fármacos preconizados, destacam-se os Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRS), tanto os seletivos como os não seletivos. A Clomipramina é a droga padrão-ouro, e muitos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), como fluoxetina, sertralina e paroxetina, são utilizados com boa eficácia.

Heterogeneidade do TOC

Atualmente, ambos os manuais de classificação diagnóstica - DSM-IV e CID-10 - abordam e descrevem o transtorno obsessivo-compulsivo como uma entidade única. Apesar disso, vários estudos apontam para o fato de que os sintomas são marcadamente diversos, e sua expressão clínica pode variar entre os pacientes, e até no mesmo portador ao longo dos anos.[5] Esta variabilidade na expressão fenotípica reforça a ideia de que o transtorno obsessivo-compulsivo seja mesmo um transtorno heterogêneo, não apenas do ponto de vista clínico, mas também em relação aos fatores etiológicos e de resposta ao tratamento[5][7][30][31]
Já em 1970, os autores Robins e Guze[32] propõem que o avanço no entendimento dos transtornos psiquiátricos é mais provável de ocorrer se trabalharmos com grupos mais homogêneos. Afirmam que:
Cquote1.svgSubgrupos de diagnósticos mais homogêneos fornecem a melhor base para estudos de etiologia, patogênese e tratamento. O papel da hereditariedade, interações familiares, inteligência, educação e fatores sociais são mais simplesmente, diretamente e confiavelmente estudados quando o subgrupo estudado é o mais homogêneo possível.Cquote2.svg
Essa heterogeneidade dificulta a interpretação dos resultados das pesquisas. Um possível caminho para superar esta dificuldade seria identificar componentes específicos do fenótipo, reforçando a necessidade da busca por subgrupos mais homogêneos de pacientes. A identificação de subgrupos mais homogêneos de pacientes com o transtorno e a correta identificação de fenótipos que sejam hereditários e válidos do ponto de vista genético, são etapas fundamentais e necessárias para se conseguir localizar e caracterizar os genes de susceptibilidade do transtorno obsessivo-compulsivo, assim como para identificar fatores de risco e de proteção, e o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de tratamento.[33]
A heterogeneidade do transtorno obsessivo-compulsivo é reconhecida desde sua descrição mais antiga pelos clínicos.[34] Como citado por Hantouche e Lancrenon (1996)[35] e Mataix-Cols (2006);,[34] em 1866 Falret já dividia a síndrome em dois subtipos: folie du doute edélire du toucher. Outros autores propuseram subdividir o transtorno obsessivo-compulsivo em classificações de subgrupos mais homogêneos e mutuamente exclusivos: início precoce versus início tardio dos sintomas[36] associado à presença de tiques versus não tiques (Pauls e cols., 1986); lavadores versus verificadores;[37] impulsivos versus não impulsivos;[38] infecção por estreptococo versus não infecção;[39] sexo masculino versus sexo feminino;[40] colecionadores versus não colecionadores,[41] entre outros. De todos os subgrupos estudados, os de pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo de início precoce dos sintomas e o transtorno obsessivo-compulsivo associado à presença de tiques são os que têm recebido bastante atenção na literatura e são foco do presente estudo.
As tentativas de subdivisão do fenótipo de transtorno obsessivo-compulsivo poderiam ser agrupadas em abordagens categoriais e abordagens dimensionais.

Abordagem dimensional

Abordagens dimensionais têm sido utilizadas para caracterizar com mais precisão as diferenças clínicas encontradas entre os pacientes.[42] O objetivo desta abordagem é a identificação de dimensões de sintomas obsessivo-compulsivos. Além do transtorno obsessivo-compulsivo, outros transtornos também têm se beneficiado com esta abordagem, como por exemplo, transtornos de humor,[43] transtornos alimentares,[44] síndrome de Tourette,[45] transtornos de aprendizagem (Grigorento e cols., 1997) eesquizofrenia.[46]
A abordagem dimensional dos sintomas foi descrita em mais de 20 estudos até o momento, envolvendo mais de 3.000 pacientes na área do transtorno obsessivo-compulsivo; o primeiro estudo foi realizado por Baer, em 1994.[47] Os resultados encontrados em várias análises fatoriais realizadas até o momento descreveram de três a cinco dimensões de sintomas, que chegaram a explicar 70% da variância.[48] A consistência destas dimensões é considerável, mesmo que os instrumentos utilizados para avaliar os sintomas tenham sido diferentes.[34] Além disso, as dimensões de fatores encontrados são semelhantes em adultos e crianças. A abordagem dimensional ganhou amplo espaço na literatura para avançar no conhecimento que a abordagem categorial tem trazido. De todos os estudos, os fatores já bem replicados são: contaminação/lavagem; ordem/simetria e colecionismo.
De acordo com Leckman (2006), dados preliminares indicam que a abordagem dimensional dos sintomas pode ter um valor heurístico para estudos genéticos, de neuroimagem e de resposta ao tratamento, além de sua importância para a clínica. No transtorno obsessivo-compulsivo, os estudos genéticos têm reportado que o uso da abordagem dimensional pode trazer pistas importantes para detectar os genes de vulnerabilidade que podem contribuir para a apresentação heterogênea do transtorno.[5] Uma implicação direta na vida do paciente é que cada vez mais, pesquisadores e clínicos, estão desenvolvendo tratamentos específicos para cada tipo de dimensão[49]
Alguns pontos são importantes para serem discutidos dentro da abordagem dimensional: a maioria dos estudos que investigaram dimensões ou fatores foi conduzida baseada em categorias de sintomas, especialmente pela escala Y-BOCS, e por meio de recursos estatísticos, chegaram-se às dimensões descritas acima. A análise fatorial é a técnica mais utilizada para a obtenção destes fatores e baseia-se em técnicas "arbitrárias". Além disso, os instrumentos utilizados para estas análises não foram desenvolvidos para medir a quantificação dos sintomas, pois se baseiam em categorias, à priori. Outra questão importante refere-se às amostras a partir das quais foram realizadas estas análises fatoriais: eram muito pequenas para se trabalhar com esta abordagem estatística, o que limita bastante os resultados encontrados,.[49] Também vale apontar que apenas um estudo[50] dentre vários que investigaram os fatores, utilizou-se dos itens contidos em "miscelânea", e assim, importantes sintomas (exemplo "superstições" ou "dúvidas obsessivas"), são também subestimados na composição dos mesmos.
Embora estes pontos sejam importantes para serem refletidos, os resultados encontrados nos estudos com abordagem dimensional foram replicados em diferentes amostras e têm demonstrado estabilidade ao longo do tempo.[34]
Outros estudos se aprofundaram no tema e trouxeram contribuições importantes. Por exemplo, estudos genéticos familiares também investigaram dimensões de sintomas. O primeiro estudo familiar foi realizado por Alsobrook e colaboradores (1999)[45] e encontrou familiares de probandos com escores altos nas dimensões de simetria/ordem com maior risco de desenvolver transtorno obsessivo-compulsivo. Em 2005, Hanna e colaboradores[51] replicaram este achado encontrando 45% dos familiares dos probandos com sintomas de simetria/ordem com diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo ou transtorno obsessivo-compulsivo subclínico. Com relação à resposta ao tratamento, escores altos na dimensão de colecionismo foram associados à pior resposta a inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), terapia cognitivo-comportamental (TCC) e ISRS + TCC comparado a outras dimensões[52][53]Erzegovezi e cols., 2001;.[54] Escores altos na dimensão sexual/religioso foram também associados com a pior resposta à combinação de terapia cognitivo-comportamental mais inibidores seletivos de recaptação de serotonina no estudo de Alonso e colaboradores (2001),[55] e pior resposta a terapia cognitivo-comportamental.[56] Esta dimensão também se mostrou mais saliente nos pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo refratário a todos os tratamentos convencionais.[57]
Desta forma, a abordagem dimensional dos sintomas pode contribuir com a investigação de transtornos heterogêneos, como é o caso do transtorno obsessivo-compulsivo.

Abordagem categorial

Apesar de a abordagem dimensional ser bastante promissora, os estudos com esta abordagem ainda não têm o embasamento científico das abordagens categoriais tentando subdividir pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo de acordo com a idade de início dos sintomas e a presença de tiques. A abordagem categorial propõe a identificação de subgrupos específicos de pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo, mutuamente excludentes.[5] A partir da abordagem categorial, alguns subgrupos de pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo têm apresentado resultados relativamente consistentes nos estudos, com características clínicas e fenomenológicas apresentando associação com maior risco familiar.[5] Dentre estas, pode-se citar o subgrupo de início precoce de sintomas e o subgrupo de transtorno obsessivo-compulsivo associado a transtornos de tiques.

Etiologia

A etiologia (causas) do TOC ainda é desconhecida. O TOC é provavelmente resultante de fatores causais diferentes. Algumas formas de TOC são familiares e podem estar associadas a uma predisposição genética. Outras se apresentam como casos esporádicos. Entre os casos familiares, parte parece estar relacionada aos transtornos de tiques, como por exemplo a Síndrome de Tourette (ST). O TOC de início precoce está associado com uma preponderância masculina e um risco aumentado de transtornos de tiques.
Estudos neuroquímicos (com mensageiros químicos que transmitem os impulsos nervosos) têm implicado neurotransmissores conhecidos como monoaminas e neuropeptídeos na fisiopatologia (mecanismo que estabelece a doença) do TOC, ST, e doenças relacionadas. A principal evidência disponível relaciona-se com a eficácia bem estabelecida dos Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina (ISRS) no tratamento do TOC. A dopamina (outro neurotransmissor) e substâncias conhecidas como opióides também têm sido implicados. Recentemente, surgiu a hipótese do excesso de atividade de um sistema cerebral envolvendo o hormônio ocitocina (OT) em pacientes com TOC sem tiques. Especula-se que pacientes com TOC associado à OT podem ser mais responsivos aos ISRS do que os pacientes com TOC associado a tiques.
Levando-se em conta os diversos estudos de neuroimagem (tomografia e ressonância magnética), observa-se um padrão de ativação cerebral no TOC que sugere disfunção de um circuito neural que inclui as seguintes estruturas cerebrais: córtex órbito frontal, núcleo estriado, córtex anterior do cíngulo e tálamo. Assim, o funcionamento anômalo de um circuito que envolve os gânglios da base (caudado), o tálamo e o córtex frontal (região órbito frontal), tem sido sugerido como importante na fisipatologia do TOC.
Existem diversas teorias para explicar o envolvimento desse circuito. Interessantemente, um grupo da Califórnia liderado por Lewis Baxter, acreditam que os circuitos cortico-estriato-tálamo-corticais evoluiram nas diversas espécies animais, no sentido de direcionar a atenção para as ações necessárias (por exemplo, diante de ameaças), e depois desencader atitudes para a sua preservação até o perigo ser considerado como passado. Nesse sentido, sugerem que um déficit no funcionamento do núcleo caudado levaria a uma filtragem (repressão) inadequada de preocupações (pensamentos violentos ou medos de contaminação) originadas no córtex órbito frontal. A ausência de inibição desses pensamentos pelo caudado teria um papel de reforçar a importância daquela preocupação indevida, provocando então a necessidade do córtex órbito frontal desencadear uma ação adaptativa: as compulsões.

TOC com idade de início precoce dos sintomas

TOC para cada 100.000 habitantes em 2002.
  sem dados
  inferior a 45
  45-52.5
  52.5-60
  60-67.5
  67.5-75
  75-82.5
  82.5-90
  90-97.5
  97.5-105
  105-112.5
  112.5-120
  superior a 120
Como já descrito acima, o perfil bimodal de prevalência do transtorno obsessivo-compulsivo de acordo com o sexo e idade de início dos sintomas reforçou a ideia de que o transtorno obsessivo-compulsivo de início precoce poderia representar um subgrupo distinto de pacientes.[18][19]
É importante ressaltar que não existe consenso na literatura acerca de qual a idade que poderia ser considerada "início precoce" dos sintomas. Alguns autores propõem diferentes limiares para estudos clínicos, genéticos, neurobiológicos e de resposta ao tratamento. Alguns consideram precoce a idade inferior a sete anos,;[17] dez anos[31][58][59] outros anterior a 15 anos[60][61][62] e ainda anterior a 18 anos.[63][64][65][66]
Outra controvérsia refere-se à própria definição de idade de início. Em alguns estudos considera-se como idade de início a idade em que o paciente ou familiar percebe pela primeira vez qualquer sintomas.[21][31] Outros consideram idade de início quando o paciente apresenta prejuízo ou sofrimento significativo associado ao sintomas.[65][66]
Rosário-Campos (1998)[4] investigou a hipótese de que a idade de início dos sintomas seria uma característica determinante para a formação de um subgrupo de pacientes distintos, independentemente da idade na data da entrevista ou da presença de comorbidade com tiques. Desta forma, foram avaliadas as características clínicas e psicopatológicas de 42 pacientes adultos ambulatoriais. Estes foram divididos em dois grupos, de acordo com a idade de início dos sintomas, sendo considerado início precoce se anterior aos 11 anos e início tardio a partir dos 17 anos.
Foram encontrados os seguintes resultados:
  • Aumento na frequência de tiques e/ou ST entre os pacientes de início precoce (48%) em relação ao grupo de início tardio (grupo de início tardio);
  • Idade média do início das compulsões menor que a idade média do início das obsessões (7,8± 1,6 comparado com 9,3± 3,6). No grupo de início tardio não houve esta diferença, com idades médias para obsessões e compulsões praticamente iguais (23,9 e 24,0);
  • Média de pontos na Y-BOCS mais alta no início precoce (30,3) do que no grupo de início tardio (26,6);
  • Aumento de frequência de fenômenos sensoriais precedendo ou acompanhando as compulsões no início precoce;
  • Aumento na média de comorbidades no início precoce (3,0) do que no grupo de início tardio (1,8);
  • Diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos para obsessões e compulsões de colecionismo (p=0,05), compulsões de repetição (p=0,05) e compulsões do tipo tic-like;
  • Resposta significativamente pior no início precoce ao tratamento de curto prazo com clomipramina em relação ao grupo de início tardio.
Nesta mesma linha de investigação, Diniz e colaboradores (2004)[21] estudaram a associação entre idade de início e duração dos sintomas com comorbidades. Foi encontrado que idade de início precoce dos sintomas estava associada a transtornos de tiques, enquanto a duração da doença estava associada a comorbidades como o transtorno depressivo e fobia social. Novamente os dados evidenciam que o subgrupo de início precoce dos sintomas apresenta características distintas.
Atualmente, encontram-se na literatura vários estudos que reforçam a especificidade deste subgrupo. Algumas dessas características fenotípicas estão resumidas na tabela a seguir:
Características clínicas mais frequentemente encontradas em pacientes com TOC de idade de início precoce dos sintomas
Características fenotípicas TOC de início precoce dos sintomasEstudos
Predominância do sexo masculinoZohar e cols., 1997; Geller e cols., 1998;[59] Tukel e cols., 2005[66]
Maior número de comorbidadesGeller e cols., 1996
Maior frequência de transtornos de tiquesSwedo e cols., 1989, 1992; Zohar e cols., 1992; Hanna e cols., 1995; Leonard e cols., 1995; Miguel e cols., 2001; Rosário-Campos e cols., 2001; Delorme e cols., 2004; Hemmings e cols., 2004; Chabane e cols., 2005; Morer e cols., 2006
Maior frequência de compulsões do tipo tic-likeRiddle e cols., 1990; Rosário-Campos e cols., 2001
Maior gravidade dos sintomasRosário-Campos e cols., 2001; Miguel e cols., 2001; Fontenelle e cols., 2003.
Maior número de compulsões do que de obsessõesHonjo e cols., 1989; Rettew e cols., 1992; Millet e cols., 2004; Morer e cols., 2006
Maior número de obsessões e compulsõesSobin e cols., 2000; Fontenelle e cols., 2003; Millet e cols., 2004
Maior frequência de fenômenos sensoriaisMiguel e cols., 1995, 1997, 2000; Geller e cols., 1998; Rosário-
Campos e cols., 2001
Maior proporção de obsessões somáticas, com simetria e medos supersticiososSobin e cols., 2000
Maior proporção de compulsões de limpeza, contagem, tocar/esfregarSobin e cols., 2000
Outros estudos que reforçam a hipótese do TOC de início precoce representar um subgrupo específico de pacientes com TOC são os estudos genéticos nos quais se encontram frequências aumentadas de TOC e SOC nos parentes de primeiro grau de crianças com o diagnóstico de TOC, quando comparados com as frequências na população em geral e em familiares de pacientes com início dos SOC após a puberdade;[58][67][68][69][70] Gonzalez, 2003; Rosário-Campos e cols., 2005;.[51]
É importante ressaltar que os estudos genéticos também têm reforçado a hipótese da associação entre TOC e os transtornos de tiques; tanto estudos familiares de pacientes com tiques relatam frequências aumentadas de SOC e TOC em familiares, quanto os estudos de famílias com TOC relataram taxas aumentadas de tiques nos familiares. Nesses estudos, formas sub-clínicas do quadro também foram transmitidas e o início precoce dos SOC nos probandos também aumentava o risco de tiques e/ou ST em seus familiares de primeiro grau.
Esses achados sugerem que ao menos um subgrupo de pacientes com TOC teria associação clínica e genética com tiques, e isto reforçou ainda mais a hipótese do subtipo TOC associado a tiques, descrito a seguir.

TOC associado a tiques

Estudos familiares, estudos com gêmeos e estudos moleculares apontam para a importância dos fatores genéticos na etiologia do Transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome Tourette (Mercadante e cols., 2004). Um possível subgrupo de Transtorno obsessivo-compulsivo baseia-se em evidências de que algumas formas do transtorno são associadas aos tiques ou síndrome Tourette. Este subgrupo é bastante estudado atualmente e diferentes estudos demonstram que este subgrupo exibe características clínicas específicas quando comparado a pacientes com Transtorno obsessivo-compulsivo sem tiques.[5][21][71]
A seguir, uma breve descrição sobre transtornos de tiques:
De acordo com o DSM-IV,[22] os transtornos de tiques compreendem o transtorno de tiques transitórios; o transtorno de tiques motores ou vocais crônicos; e o transtorno de tiques motores e vocais crônicos, conhecido como síndrome de Gilles de la Tourette (síndrome Tourette); além de uma categoria residual chamada de transtorno de tiques sem outra especificação. É necessário que os tiques causem comprometimento no funcionamento familiar, social, escolar ou profissional. Os transtornos de tiques, semelhante ao Transtorno obsessivo-compulsivo, acometem os indivíduos independentemente de raça, religião, estado civil, nível sócio-econômico e nacionalidade. Em 1993, Apter e colaboradores[72] encontraram uma taxa de síndrome Tourette de 4,5 por 10.000 adolescentes, lembrando que esses números podem não refletir a realidade já que nos casos leves ou moderados do transtorno os pacientes não procuram por atendimento médico. Hornse e colaboradores (2001)[73] encontraram uma prevalência de 1,85% de síndrome Tourette em escolares de 13 e 14 anos.
Os tiques são movimentos, sons ou vocalizações repetitivos, abruptos e estereotipados que envolvem grupos musculares distintos. São caracterizados pelos clínicos pela sua localização anatômica, número, frequência, intensidade e complexidade. A intensidade de um tique pode ser expressa pela força com que é realizado e assim chamar mais ou menos atenção. Já a complexidade refere-se a quão simples o movimento ou som é feito, variando de breve, sem significado, fragmento abrupto (tique simples), até movimento ou vocalização maior e aparentemente com um maior significado (tique complexo).[74] Estes elementos foram incorporados em escalas de avaliações clínicas as quais mostram proficuidade no monitoramento da gravidade dos tiques.[75][76][77]
A síndrome de Tourette é caracterizada pela presença de múltiplos tiques motores e no mínimo um tique vocal, com início antes dos 18 anos e duração mínima de um ano. Os tiques não podem estar ausentes por mais de três meses consecutivos.[22] Alguns exemplos de tiques motores são: piscar os olhos, chacoalhar os ombros e balançar a cabeça (tiques simples); expressões faciais envolvendo mais de um grupo muscular, movimentos com o tronco ou região do quadril parecendo ter um propósito (tiques complexos). Os tiques complexos podem ser intencionais, como, por exemplo, tocar em um objeto, ou não intencionais, como chutar com as pernas de forma repetitiva (The Tourette Syndrome Classification Study Group, 1993). Exemplos de tiques vocais são: tossirpigarrear,fungarassobiar (tiques simples); repetir sílabas, falar palavras obscenas, ecolaliapalilalia (tiques complexos).
Tiques motores têm início usualmente entre as idades de três a oito anos com períodos transitórios de piscar de olhos intenso e alguns outros tiques faciais. Já os tiques vocais podem aparecer com três anos de idade, mas tipicamente começam após o início dos tiques motores (Leckman e cols., 1998). Em muitos casos, a gravidade dos tiques atinge um pico na segunda década de vida e apresenta uma marcada redução por volta dos 19 ou 20 anos. Entretanto, nos casos mais graves de síndrome Tourette, os sintomas permanecem até a idade adulta. Em casos extremos da doença os tiques envolvem movimentos de automutilação, gritos, gestos e falas obscenas que acabam por trazer uma interferência muito grande para o indivíduo nas suas relações sociais. Os tiques podem ser realizados sem que a pessoa os perceba, ou podem ser realizados no intuito de aliviar sensações físicas ou mentais desagradáveis, conhecidas como fenômenos sensoriais.[19] De 50 a 90% dos indivíduos com tiques ou síndrome Tourette apresentam sintomas de transtorno de hiperatividade com déficit de atenção, transtorno de oposição desafiante e transtorno de conduta[78][79][80] A associação com o Transtorno obsessivo-compulsivo também é bastante frequente, conforme descrito na abaixo.
Voltando para as evidências da associação entre Transtorno obsessivo-compulsivo e tiques, esta já foi descrita há bastante tempo. Charcot foi o primeiro a considerar alguns comportamentos obsessivo-compulsivos como parte dos transtornos de tiques. Itard, em 1825, descreveu o primeiro caso que apresentou a combinação entre tiques motores e vocais com pensamentos obsessivos. Em 1885,Gilles de la Tourette descreveu uma paciente que também apresentava a associação de tiques motores e vocais com alguns pensamentos obsessivos.[81]
Nas últimas duas décadas, alguns estudos mostraram a sobreposição do Transtorno obsessivo-compulsivo ou sintomas transtorno obsessivo-compulsivo com tiques. Leckman e colaboradores (1994)[82] relataram que 23% dos pacientes com síndrome Tourette tinham também o diagnóstico de Transtorno obsessivo-compulsivo e 46% apresentavam sintomas transtorno obsessivo-compulsivo. Similarmente, pacientes com Transtorno obsessivo-compulsivo apresentaram frequência de tiques variando entre 7 e 37%.[83] É importante lembrar que a prevalência da síndrome Tourette é estimada em 1% e de tiques entre 1% e 13%.
No ano de 2005, Mansueto e Keuler[84] propuseram uma terminologia para pacientes que apresentam tanto sintomas do Transtorno obsessivo-compulsivo quanto tiques: "Tourettic OCD". A colocação é feita em cima de evidências de que, embora sejam entidades distintas conforme manuais de classificação (DSM-IV), a coocorrência destes transtornos e os resultados de estudos familiares genéticos desafiam a atual categoria em que se encontram. Na prática clínica, a distinção entre tiques e compulsões nem sempre é uma tarefa fácil (exemplo: um tique motor complexo pode ser indistinguível de uma compulsão). Os autores defendem que a utilização do termo "Tourettic OCD" diminui algumas dificuldades encontradas na prática clínica com relação às escolhas terapêuticas de tratamento. Esta denominação surgiu a partir da observação de características fenomenológicas similares entre os transtornos (Leckman, 1993;[85]), e da alta comorbidade entre Transtorno obsessivo-compulsivo e síndrome Tourette: de 20% a 60% dos pacientes com síndrome Tourette apresentam algum sintomas. Em estudos com Transtorno obsessivo-compulsivo, foram encontrados tiques em mais de 50% da amostra infantil e 15% de síndrome Tourette.[68][86] Além disso, estudos genéticos dão suporte para esta associação,[58][87] com hipóteses de possíveis substratos neurobiológicos em comum.[71]
Reforçando a hipótese de associação entre TOC e tiques, os estudos genéticos sugerem que pelo menos algumas formas de TOC estão etiologicamente relacionadas com a síndrome Tourette e devem, portanto, ser uma expressão variante dos mesmos fatores etiológicos que são importantes na expressão dos tiques,.[30] Por exemplo, estudos apontam para índices mais altos de TOC e sintomas de TOC em familiares de pacientes com síndrome Tourette[88][89][90][91] e também frequências maiores de síndrome Tourette e tiques em familiares de primeiro grau de pacientes com TOC.[58][68][92][93] A sobreposição entre TOC de início precoce e transtorno de tiques sugere que ambos possam ser subtipos com uma etiologia comum.
A partir das evidências da associação entre TOC e tiques, nosso grupo procurou investigar características psicopatológicas e de comorbidades que pudessem diferenciar os pacientes com TOC sem síndrome Tourette, TOC com síndrome Tourette e síndrome Tourette sem TOC.[94] A característica fenotípica que melhor diferenciava os pacientes com TOC associado com a síndrome Tourette e TOC sem síndrome Tourette era a presença de fenômenos sensoriais que ocorriam antes ou durante a realização dos comportamentos repetitivos. A partir destes achados, nosso grupo[95] se empenhou em descrever e definir com mais precisão estes fenômenos ditos sensoriais, para então investigar a hipótese de que os fenômenos sensoriais seriam mais frequentemente relatados em pacientes com síndrome Tourette e TOC associado à síndrome Tourette, quando comparados a pacientes com o diagnóstico de TOC sem síndrome Tourette. Para esta investigação, foi elaborada a "Entrevista sobre comportamentos repetitivos USP-Harvard".[95] Devido à necessidade de um entrevistador muito especializado e o tempo longo necessário para aplicação da entrevista foi realizada uma versão reduzida da escala, chamada USP-SPS, e sua validação é objeto de estudo em nosso grupo[96] Portanto, a presença de fenômenos sensoriais que precedem ou acompanham os comportamentos repetitivos em pacientes com TOC e tiques sugere a hipótese de este ser outro subgrupo do TOC com características fenotípicas distintas.
Os fenômenos sensoriais foram inicialmente descritos em pacientes com transtornos de tiques:,[82] mas sabe-se que podem estar presentes também em pacientes com TOC, mesmo que os tiques não estejam associados[95][97][98]. Eles são definidos como sensações, sentimentos ou percepções desconfortáveis que precedem ou acompanham a realização dos comportamentos repetitivos[95][97][98]. Esses fenômenos podem ser divididos em dois tipos: sensações físicas (focais ou generalizadas) ou mentais. As sensações físicas podem ser táteis, músculoesqueléticas ou viscerais, dependendo da sua localização (pele, músculo ou órgãos internos). Já as sensações mentais são descritas como sensações generalizadas e desconfortáveis e podem ser agrupadas em quatro tipos principais.[95][99]
  1. percepções de "estar em ordem" ou just-right;
  2. sensação de incompletude;
  3. necessidade de "ter que";
  4. sensação de energia interna.
Ainda em nosso grupo, Diniz e colaboradores (2005),[6] investigaram as possíveis diferenças entre TOC sem tiques, TOC + síndrome Tourette e TOC + transtorno de tiques motores ou vocais crônico (TMVC) em uma amostra de 159 pacientes. Os resultados sugeriram que o grupo do TOC + transtorno de tiques motores ou vocais crônico possa apresentar um fenótipo intermediário entre TOC puro e TOC + síndrome Tourette. Os pacientes com TOC + TMVC tiveram algumas características mais parecidas com TOC + síndrome Tourette e mais frequentes do que TOC sem tiques: frequência de sons intrusivos, comportamentos repetitivos, contagem e compulsões do tipo tic-like. Os achados deste estudo reforçam ainda mais que o TOC ligado a tiques seja um subgrupo distinto, com características específicas dentro do macro-fenótipo do TOC.
Características clínicas mais frequentemente encontradas em pacientes com TOC associado a tiques e/ou ST
Características fenotípicas do TOC associado a tiques e/ou STEstudos
Predominância do sexo masculinoHolzer e cols., 1994; Leckman e cols., 1995
Início mais precoce dos sintomas obsessivo-compulsivoHolzer e cols., 1994; Leckman e cols., 1995; Miguel e cols., 1997; Rosário-Campos e cols., 2001
Maior freqüência de fenômenos sensoriaisLeckman e cols., 1994; Miguel e cols., 1995, 1997, 2000
Obsessões com temas sexuais e de agressão, colecionamento, rituais de contagem e simetriaRasmussen e cols., 1986; Pitman, 1987; George e cols., 1993; Baer, 1994; Holzer e cols., 1994; Petter e cols., 1998; Leckman e cols., 1995; Eapen e cols., 1997; Zohar e cols., 1997
Maior frequência de compulsões do tipo tic-likeGeorge e cols., 1993; Holzer e cols., 1994; Leckman e cols., 1994, 1995, 1997; Miguel e cols., 1997; Eapen e cols., 1997; Petter e cols., 1998; Diniz e cols., 2006
Maior carga genéticaRosário-Campos e cols., 2005;
Maior número e variedade de sintomas obsessivo-compulsivoMiguel e cols., 1997
Maior comorbidade com tricotilomaniatranstorno dismórfico corporaltranstorno bipolartranstorno de hiperatividade e déficit de atençãofobia social e abuso de substânciasCoffey e cols., 1998; Diniz e cols., 2004
Até o momento, alguns estudos compararam o perfil de pacientes com TOC associado a tiques e TOC sem tiques. Porém, estes estudos têm como foco avaliar poucas características clínicas, em sua maioria apenas o perfil dos SOC.[71][100][101][102][103][104][105][106][107] O presente estudo apresenta algumas vantagens em relação aos demais: possui uma amostra maior de pacientes comparado aos estudos anteriores, avalia um maior número de características demográficas e clínicas, além de ser o primeiro a investigar dimensões de sintomas.
Os dois estudos mais recentes que investigam o perfil dos sintomas de pacientes com TOC associado a tiques e TOC sem tiques são os de Hanna e colaboradores (2002)[106] e Scahill e colaboradores (2003).[107] No primeiro estudo, 60 crianças ou adolescentes com TOC foram comparadas, e destas, 15 tinham comorbidades com transtorno de tiques. A comparação entre o grupo de pacientes com tiques versus os pacientes sem tiques foi feita utilizando a escala Children´s Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale (CYBOCS) para avaliar categorias de obsessões e compulsões. Como resultado, os autores encontraram que não havia diferença entre os dois grupos com relação às sete categorias de obsessão, mas as compulsões de organização, colecionismo e limpeza, foram mais comuns no grupo de pacientes sem história de tiques. Os autores confirmam que o TOC associado a tiques deve ser diferenciado do TOC sem tiques em uma fase mais precoce pela presença de certos sintomas obsessivo-compulsivos.
Um estudo recente realizado por Scahill e colaboradores (2003)[107] avaliou o impacto da idade e presença de tiques no perfil de SOC em uma amostra pediátrica composta por 80 crianças com TOC avaliadas em relação aos tipos de sintomas, idade de início do SOC, funcionalidade e presença de tiques. Dos 80 pacientes, 48 não tinham tiques e 32 tinham algum tique. Os resultados encontrados mais uma vez sugerem que o TOC sem tiques está mais ligado a sintomas de contaminação e lavagem, e que a presença de tiques está associada com rituais de repetição. Além disto, os resultados sugeriram que os pacientes sem tiques tiveram maiores índices de ansiedade. Um resultado bastante significativo deste estudo foi a não associação aparente entre início precoce dos sintomas (considerado menor que 10 anos) e história positiva de tiques.
Os resultados dos estudos citados acima apresentam mais semelhanças do que diferenças no perfil dos pacientes de TOC associado a tiques e TOC sem tiques. Algumas discrepâncias encontradas nesses estudos podem ser atribuídas a diferenças no tamanho das amostras, gravidade dos tiques e abordagens estatísticas utilizadas.[106] De todos os estudos, apenas os de Hanna e colaboradores (2002)[106] e Scahill e colaboradores (2003)[107] discriminam pacientes por grupos de idade de início dos sintomas, avaliando pacientes que tiveram o início dos sintomas do TOC até os 18 anos. Porém, nenhum destes estudos avaliou apenas pacientes com início dos sintomas até os 10 anos, como faz o presente estudo. Além disso, este é o primeiro estudo que levou em consideração características clínicas tão diversas como perfil de comorbidades, dimensão de sintomas e história familiar, em uma amostra mais significativa. A seguir, na Tabela, estão dispostos os resultados destes estudos:
Estudos que avaliaram diferenças clínicas entre pacientes com TOC com tiques versus TOC sem tiques
EstudosPacientes TOC com TiquesPacientes TOC sem Tiques
George e cols., 1993
  • maior frequência de obsessões de simetria, sexuais e de agressão;
  • maior frequência de compulsões de tocar, piscar e fixar o olhar.
  • maior frequência de obsessões de contaminação;
  • maior frequência de compulsões de limpeza.
Holzer e cols., 1994
  • maior frequência de compulsões de tocar, piscar e fixar o olhar.
  • maior frequência de rituais de limpeza.
Miguel e cols., 1995
  • maior frequência de fenômenos sensoriais
de Groot e cols., 1995
  • maior frequência de obsessões somáticas, sexuais e de simetria;
  • maior frequência de compulsões de checagem, contagem, necessidade de tocar e esfregar.
  • maior frequência de obsessões de contaminação;
  • maior frequência de compulsões de limpeza.
Leckman e cols., 1995
  • maior frequência de obsessões de agressão, religião e sexuais;
  • maior frequência de compulsões de contagem, verificação, organização, necessidade de tocar e colecionismo.
Miguel e cols., 1997
  • maior frequência de fenômenos sensoriais
Zohar e cols., 1997
  • maior frequência de obsessões sexuais e religiosas.
Petter e cols., 1998
  • maior frequência de obsessões relacionadas à aparência;
  • maior frequência de compulsões de tocar, esfregar, fixar o olhar.
  • mais obsessões de contaminação;
  • mais compulsões de limpeza.
Miguel e cols., 2000
  • maior frequência de fenômenos sensoriais
Cath e cols., 2000
  • maior frequência de obsessões de contaminação;
  • maior frequência de compulsões de limpeza.
Hanna e cols., 2002
  • maior frequência de compulsões de organização, colecionismo e limpeza.
Scahill e cols., 2003
  • maior frequência de rituais de repetição.
  • maior frequência de obsessões de contaminação;
  • maior frequência de compulsões de lavagem.
Diniz e cols., 2004
  • maior frequência de obsessões somáticas