A Psicologia da Boa Alimentação
O
assunto sobre emagrecimento, ter hábitos alimentares saudáveis, lutar contra a
compulsão alimentar e outras questões relacionadas à nutrição, para algumas
pessoas, é sinônimo de angústia, frustração e sentimento de impotência.
A necessidade de uma reeducação alimentar pode
trazer dificuldades no dia a dia, como: iniciar uma dieta hipocalórica e não
conseguir mantê-la, não resistir ao consumo de doces, frituras e pratos
hipercalóricos e o resultado final é a ruptura da proposta de emagrecimento e o
aumento de peso indesejado.
Mas
por que para alguns é difícil e sofrido reduzir o peso? Quais os fatores que
contribuem para a compulsão alimentar? Por que uns conseguem fazer dieta e
outros não?
É
evidente que o perfil da vida moderna é, na maioria das vezes, o responsável
por grande parte do quadro de obesidade. A correria do dia a dia proporciona o
acúmulo de tensão psicossomática. A sobre carga da jornada de trabalho, a
competitividade no mercado de trabalho, os efeitos da globalização e outros fatores
da nossa atualidade direcionam e estipulam hábitos alimentares irregulares e
pouco saudáveis. O exemplo disso é o grande número de restaurantes Fast Food.
O
fator biogenético também influencia na dificuldade da perda de peso. A questão
metabólica é um agente de grande importância que aliada a uma vida sedentária
pode trazer prejuízos imensuráveis. Por outro lado, a atividade física,
acompanhada pelo Educador físico, é uma ferramenta incondicional para o bom funcionamento
biológico e psíquico, porém, ainda pouco cultivada na rotina da maioria da
população.
Mas
os aspectos Psicológicos contribuem substancialmente no entendimento e na clareza
dessas interrogações. Tal aspecto revela que existem pessoas que apresentam
dificuldade de lidar com situações de estresse e ou tensões de ordem
psicoafetivas. Geralmente são indivíduos
com características ansiogênicas, ou seja, vivenciam as situações diárias de
forma ansiosa.
A
ansiedade capaz de causar prejuízo ao ser humano pode ser expressa de duas
maneiras: exteriorizando-a, ou seja, o conteúdo ansioso é apresentado através
de sintomas Psicossomáticos como sudorese, palpitação cardíaca, expressão
corporal agitada, insônia e alteração do humor (geralmente agressivo e ou irritável).
Outra maneira é não apresentar nenhum tipo de expressão comportamental. São
indivíduos que vivenciam a ansiedade internamente e não conseguem expressá-la
através do corpo (Psicossoma).
O
problema da dificuldade de controlar a comida está quando se utiliza de
mecanismos defensivos (grande parte inconscientes) como forma de evitar a
presença angustiante dos sintomas gerados pela ansiedade. Tais mecanismos
geralmente são repetidos com muita freqüência e intensidade.
A
boca é uma região de gratificação prazerosa desde o nascimento (leite materno).
Instalando o quadro ansioso, torna-se comum o mecanismo de deslocamento. A
tensão psíquica causada pela ansiedade situacional é deslocada para regiões do
corpo chamadas de erógenas e que objetivam o alívio e a sensação de prazer. Dessa
forma, a comida torna-se objeto de realização oral e redução das tensões
psíquicas. Esse mecanismo é uma forma de evitar temporariamente o sentimento de
desprazer e buscar gratificação (outro mecanismo de defesa) através da
oralidade. A ansiedade pode gerar tanta angústia para o sujeito que este acaba
“deslocando” para o ato de comer o alívio e a auto-satisfação.
Outro
mecanismo é chamado de introjeção. É tentar preencher o vazio emocional chamado
popularmente de “carência afetiva” absorvendo conteúdos da realidade. Esse
mecanismo pode ser definido como sendo o processo de interiorização dos
conteúdos externos para o universo emocional. É realizado pelo processo
simbólico Isso explica porque certas pessoas relatam maior preferência por
doces ou salgados. Na realidade o alimento escolhido passa ter um significado
simbólico na vida do sujeito e ingeri-lo tem um sentido de “preenchimento” do
vazio interno.
É
claro que a origem de tudo está na forma como a pessoa lida com a ansiedade. O
fato de gostar de uma boa torta de chocolate não significa necessariamente carência
afetiva ou instabilidade emocional. Tudo depende de como a pessoa vivencia sua
relação com a comida e sua afetividade. É preciso acima de tudo, ponderar a
experiência de vida de cada um e a forma de se lidar com o real.
A
avaliação nem sempre é fácil de ser realizada. Alguns casos devem ser
acompanhados por profissionais como Nutricionista, Psicólogo e até mesmo
auxílio Psiquiátrico e Endocrinológico. O hábito alimentar deve necessariamente
causar prejuízo biológico, psicológico e social para ser diagnosticado como
patológico.
Finalmente, comer também é uma questão
psicológica.
André Luiz de Senna
Silva
Psicólogo Clínico e
Psicopedagogo.
CRP 14/01650-3